O Castiçal

José era um homem pobre. Jardineiro, ganhava a vida no trabalho diário com flores e plantas.
Certo dia, ele se dirigia para casa quando encontrou no caminho um homem prestes a ser assaltado.De alma nobre e ânimo valente, logo foi em socorro do desconhecido.
Graças à sua interferência os dois ladrões fugiram sem causar maiores danos físicos.
Reconhecido, o quase assaltado resolveu premiar o seu salvador. Por ser um homem rico e possuir muitas e ricas peças, tomou de uma caixa amarela e a deu ao jardineiro.

José foi rápido para casa. Mal podia conter sua curiosidade. O que será que lhe teria dado o rico senhor?
Como a caixa pesava ele pensou que poderiam ser muitas moedas de prata. Ao abrir a caixa, para conhecer as preciosidades que ela devia conter, ficou desiludido. Era somente um castiçal. Um castiçal de metal escuro e pesado.
José ficou muito aborrecido. Afinal, arriscara a vida lutando contra os salteadores da estrada e ao final, somente ganhara aquilo. O que ele faria com um castiçal?
Convencido da falta de valor do presente, ele atirou o castiçal a um canto. Abandonado, o objeto ficou rolando pela casa. Toda vez que o jardineiro colocava sobre ele os olhos, mais se amargurava lembrando-se do episódio.
Como as dificuldades da vida de José aumentaram ele precisou sair daquela casa e foi morar em outro lugar. Levou com ele quase tudo que possuía. Mas deixou sobre a mesa suja, o castiçal. Afinal, era uma coisa imprestável!
Mas aconteceu que na casa deixada por José, veio morar um músico chamado Leonardo. Descobrindo o castiçal em desleixo, teve logo a impressão de que deveria ser uma peça curiosa.

Tirou-lhe o pó e livrou-o das manchas que o recobriam. Viu então que na base da peça haviam várias figuras.
Quanta beleza! Imaginou logo o músico que o castiçal deveria ser uma preciosidade. Tratou de mostrá-lo a várias pessoas, até conseguir que um rico colecionador de peças raras o comprasse, por uma fortuna incalculável.

O que nas mãos de José era uma peça inútil se transformou em uma verdadeira preciosidade aos olhos inteligentes de Leonardo.
Quantas pessoas existem no mundo que, à semelhança do jardineiro, possuem ao seu lado tesouros incalculáveis, mas cujos olhos não se apercebem do que os rodeia.